terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

PÁSSARO ERRANTE

Leva no teu magnífico vôo pássaro contente
Nas asas, no bico, para onde fores
A saudade, o amor, todas as flores
Desse que te tem um humilde amor ardente.

Espalha em todos os cantos
Dessa terra triste onde tu passares
A alegria, a doçura dos teus olhares
Deixa-me ver a magia dos teus encantos.

Nos meus sonhos muito tenho sofrido
Por esse amor tão perto e tão distante
Tão perto porque te vejo a todo instante
Tão longe porque de mim tens esquecido.

Não pense que teu afastamento me demove
Que me fará parar de te amar
Quem sabe um dia a mim hás de olhar?
E de mim tanto sofrimento remove.

Eu sofro o que importa Isso agora?
Sofro por ti sim! Bem sei que na vida
Quem ama sofre de uma dor tão doída
Uma dor que até e própria dor devora.

Ainda assim continuarei na eternidade a sofrer
Não importa, se continuar a sofrer preciso for
Continuarei a sofrer na vida por teu amor
Por meu sofrimento terei o teu amor antes de morrer.

Levarei a todos os campos onde pousares
O pólen da mais cheirosa flor
Flor que desabrocha amor
Amor que verei emanar dos teus doces olhares

Vem pássaro errante, vem ter comigo
Quero fazer-te um pássaro sedentário
Sei que por teu amor é necessário
Fazer do meu ninho teu abrigo

Escreve pássaro no ar, em teu vôo rasante
A dor que causas, quando cruzas o meu céu
Deixa-me como um louco ao léu
Esqueces como dói a dor de um amante

Sei que sentes o que sinto pelo amor teu
Bem sabes como meu sofrimento é imenso
Deus sabe o quanto nessa vida penso
Que um dia hei de ver esse amor só meu.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

VERSOS DE UM AMOR ARDENTE

Ainda sinto tua voz sussurrando ao meu ouvido
Dizendo-me palavras de mais pura ternura
Eram palavras doces, de mais suave frescura
Nos teus lábios, via a volúpia e sentia o teu gemido

Ristes, e distante no riso eu te via
Caminhavas com garbo e elegância
Em minha direção, era tanta a minha ânsia
Que em meio ao teu sorriso eu morria.

Latejava minha alma entre prantos
Meu desejo era imenso de te ver
Nesse desejo amor quero morrer
E ressuscitar nos risos dos teus encantos

Espero um dia em tuas mãos poder tocar
 no meu desejo sentir teu coração a palpitar
Mas tudo isso e obsessão que vivo a imaginar
A fantasia de amor com você, sonhando um dia eu te amar

Não posso esquecer minha amada do teu sorriso feliz
E se me ouvires gritando ao vento que eu
Te amo, é porque sinto teu amor só meu
E sendo teu amor só meu, então que fique nele a raiz.

Estarei sempre com teu sorriso na alma
Lembrando do som mavioso da tua voz
Essa voz que trouxe até nós
Esse amor que a minha dor acalma

Lábios de carmim, dentes de marfim, ah! Se você me amasse
Quisera eu pudesse pedir que as estrela me fizessem um favor
E os anjos também, eu pediria pra ser dono desse amor
Para na vida sermos felizes, e só a morte nos separasse

Oh! Madona de sorriso encantador
Musa dos afagos dos meus abraços
De pétalas quero cobrir o trilho dos teus passos
De rosas quero reflorir o caminho do andor

Beijar tua boca carnosa é o que almejo
Beijar teu corpo inteiro é a realização do meu sonho
Em versos de amor a ti me exponho
Em versos de amor eu te desejo

Anseio em ver teu corpo ao meu corpo colado
Sonho com a ardência do teu beijo numa mistura louca
De línguas, lábios, dentes, e eu com voz rouca
A falar-te – tens um olhar apaixonado.

Teus lábios revelando nessa hora
O amor, o querer, o desejo, a paixão
A vontade de dar, de entregar o coração
No mais sublime e puro desejo da carne agora

Orvalhaste teu caminho lucescente
Com minhas lágrimas, quando partiste
Deixaste aqui um coração triste
Levando contigo meu amor ardente

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

NECROFÍLICA ARMADILHA


Uiva-me na noite o inexorável acraniota
A voz onomatopéica do lobo
Conduz-me à armadilha como um bobo
Armada pela avarenta mão do agiota.

Os caninos revelam nessa maldita hora
A verossimilhança entre o lobo e a hiena
O primeiro faz-me sua presa sem pena
A segunda minha carcaça devora.

Era a escuridão da mente que me assombrava
Fazia-me gemer, tremer o corpo todo
Na relação entre o marca passo e o eletrodo
Sentia o coração da hiena que me espreitava.

Ela queria roubar-me o último denário
E na escuridão o lobo também me espreitava
Colocava no meu olho sua abominável trava
E do meu bolso sugava seu salário.

Frente a frente, eu e a besta que me assanha
Não posso no meio da matilha cair
Preciso agora dessa avareza sair
Ou essa maldita carnificina me apanha.

Corro para a luz fugindo da sua mão
Talvez minha única esperança
Mas, o clarão me leva à infância
E me lembro quando eu também era ladrão.

Como um relâmpago, nessa fração de segundo
A maldita besta chega a mim com sua afiada trava
E na minha neoplásica garganta crava
Trazendo-me de volta ao maldito submundo.

O sol surgiu na minha frente natural
Apenas o gelo na minha face era diferente
E vi de repente a escuridão novamente
Quando alguém me cobriu com um jornal.

Acabei caindo no meio da realidade
Fui devorado pela besta com certeza
Virei parte de hipocondríaca avareza
E tornei-me um palhaço da sociedade.
O BANQUETE

Como um alcoólatra adrede entra num bar
Eu cá pensava no meu corpo retalhado
Se meu fígado estaria necrosado
Quando o legista o fosse examinar.

Dormia e via o fantasma da minha sorte
Acordava-me e tomava também do meu café
Quando deitava sua mortalha aquecia-me o pé
Quando sorria sua foice anunciava minha morte.

Sentia nesse instante minha inorgânica matéria
Apodrecer para o júbilo das criaturas
Subterrâneas das sagradas escrituras
 Que me transformavam em pesadelos a idéia.

No conciliábulo dos antropófagos
Maquinavam em me jogar ao canibal
Deveria ir pelo caminho vicinal?
Para nutrir também os hematófagos?

O caldeirão me é o pesadelo eterno
E a carne que sabreca não é a tua
É melhor que nutras a minha carne crua
E glutes também meu pensamento no inferno.

Queima-me amargamente o rosto
A quentura abrasadora neste inferno
Ainda que esteja do lado externo
Sinto a agonia do atalaia no seu posto.

Nadei no líquido que o inferno bostejava
No momento em que à minha frente uma luz surgia
Era a luz da mãe vagina que me paria?
Não! Era a luz do cu que me cagava.

Neste inferno não me falta sofrimento
Nem amigos que caminhem ao meu lado
A bactéria, o vírus e o rato leptospirado
São os que bebem do meu corpo o escorrimento.

Não entendia como me parecia tão belo
Os caminhos traçados no corredor
Do inferno ao purgatório nada me restou
Apenas o micróbio que assumiu o meu alelo.

Era belo, porque me era a única companhia
Nas noites de angustia e solidão
A barata me servia de alimentação
No degredo perpétuo aliviava-me a agonia.

O verme sem piedade roia meu intestino
O morfético sugava como nunca meu pescoço
O carniceiro escarnava o meu já descalcificado osso
Este banquete era afinal o meu destino.
O BAILE LOUCO DA MENTE
A VISÃO
Avanço lentamente no meu biodúbio caminho
Esperando pela cura que não vem
Devo esperar pela a ajuda do além?
Ou será melhor morrer sozinho?

Vôo na ignóbil esperança celestial
De ver o extermínio da fome
Esse câncer que atrofia o coração do homem
Esse maldito nódulo social.

Meu olho de lágrimas está toldado
Dentro desta santa sacristia
Rio de dia mentindo à virgem Maria
À noite como uma praga choro esfomeado,

Vejo todos em vão rezando
Para um poder divino duvidoso
Quanto mais se ora, mais se fica asqueroso
Quanto mais se fica de joelhos, mais a fome vai matando.

Vejo tantos, na certeza da fome, de forma diferente
O bem que te faz na vida sofrer
O mal que te garante o direto de viver
No pensamento do homem indolente.

Vejo o rancor do negro, que segrega o branco em segredo
Sinto o ódio do branco, que deixa seu preconceito aberto
O rico torna seu caminho cada vez mais incorreto
O pobre faz disso seu eterno degredo.

O inferno revela as labaredas que me devoram a alma
O claro ilumina a escuridão da minha vida indigente
O corpo já não suporta o flagelo da mente
O céu é para mim um pequenino instante de calma.

Vejo a ambigüidade suprimindo o sexo
O pênis metamorfoseando-se em vagina de forma inexorável
A vagina erigindo-se como um pênis de modo indubitável
Mafêmea, femacho, num mundo desconexo.

A vida é como um rio caudaloso e lento
Cheio de gente que não avança
A morte dessa vida não se cansa
E devora essa gente como um sopro de vento.

Vejo a política transformando
Os melhores companheiros amigos
Em piores traiçoeiros inimigos
Para honra e glória da fome que continua matando.

Vejo Deus, a carnificina permitindo
Deste povo que tudo assiste bestificado
Pensando que o culpado de tudo é o pecado
Enquanto o Diabo, seu papel vai assumindo.

Vejo Deus, criando o tudo do nada
Para justificar ser o eterno criador
Se assim não fosse, seria um mero copiador
E o diabo não usaria o fio da espada.

AO DEUS OBSERVADOR

 Eu, filho da tua hipocondríaca avareza
Ínfimo da matéria carbonizada
Ainda que no útero nem gerada
Já caminhava na aberração da tua pobreza.

Eu, perfeita obra tua
Criado para alimentar tua alienação
Além de me tirares da mesa o pão
Obrigas-me a comer essa teológica carniça crua.

Eu, perfeição da tua obra
Suporto o jugo reservado para mim
Tal qual um bibelô exposto num jardim
Fui transformado ainda jovem nesta sobra

Eu, desculpa para tua hipocrisia
Monstro criador do teu pecado
Como um cordeiro ainda sou sacrificado
Alimentando cada vez mais tua teologia.

Eu, carniceiro por natureza
Culpado por toda maldade na Terra
Por minha causa o cordeiro ainda berra
Por mim teu nome é incerteza.

Eu, que fico deitado observando na rede
Do que é capaz o homem
Só não entendo porque ainda choro a fome
Tampouco, o porquê de tanta sede.

Eu, hospedeiro cósmico universal
Da tua bizarra esquizofrenia
Rejeitado por ti na plutocracia
Entretanto, inserido por ti na desgraça mundial.

Eu, expiatório da tua inoperância
Culpo-me por tanta ignorância
De não ter na epigênese da minha infância
Observado que eras um deus de mera observância.
NECROFÍLICO VÔO DAS MOSCAS

Busco no vazio do prato, o extermínio da fome
Encontro apenas meu filho acamado
Chorando sobre o sangue melenado
Culpando a omissão do deus-homem.

Sinto o estômago comprimido pela míngua
Que alimenta essa estéril terra
A desnutrida filha que no chão agora berra
Chora a fome comendo a própria língua.

Meus olhos não conseguem enxergar
Durante o dia a bactéria escondida
Que à noite sai para fazer-me sua comida
Nessa cadeia, até deus tem que se alimentar.

Caminho enfraquecido pela desnutrição
Das minha pernas e pela falta de neurônio
Este cadáver já não é mais tão medonho
Apenas um avanço na cerebral desoxigenação.

Nesta abiose, minha neurose quer apenas ver
Este esqueleto ser, agora cianótico
Esperar o verme que irá me devorar o nervo óptico
Esta putrefática matéria ter um dia o que comer,
À minha filha Marylee
PRECOCE INFÂNCIA

Sinto no âmago da minha matéria
A dor desta maldita chaga
Esta dor que minha vida apaga
E faz-me enxergar tua miséria.

Lembro-me de tua tenra idade
Dos teus negros dias de agonia
A desgraça cedo atingiu tua mocidade
E ao mundo mais um escarrado cuspia.

A rua cheia de idiotas
Todos contaminados de ablepsia
Não vias que o mais infecto dos agiotas
Na desgraça da tua mãe enriquecia.

Porém, tua pior desgraça foi
Ter nascido nesse tempo
Por ruminares és tido como um boi
Por não seres burro, és taxado de jumento.

Teus amigos tragados pela vida
Hoje a morte suas faces arranha
A Sueli de menina virou bandida
E o Digueto um colossal monte de banha.

Todos os dias, o dia era pela noite engolido
E chegava o pesadelo da tenebrosa escuridão
No Ver-O-Pesso, de madrugada o Caboquinho havia morrido
E o Ponta torturado na prisão.

Não vi na tua infância passageira
A esperança de crescer
Vi o câncer devorar tua mente inteira
Então, foi bem melhor te ver morrer.
Ao meu irmão, Próbius Augustos
HOMENAGEM AO AMIGO
A vida estará sempre mesclada
De loucos e estranhos prazeres
Juro que vi tua barriga inchada
Um dia antes de morreres.

Era a cirrose que como um dragão
Assava-te o fígado com as brasas
Dos malditos cigarros que fumavas
Os mesmos que necrosavam o meu pulmão.

Miscigenação do álcool com o fumo
Edacíssimo do ácido cianídrico
Monstro da cerveja e do consumo
Libente do acetilsalisílico.

Tal qual um servo como ao senhor guardava
Cumprias fielmente a penitência
Dizias ter tanta sapiência
Todavia, o vício era quem na verdade nos guiava.

A tua chaga não está na tua bebida
Tampouco nos versos que saem da tua boca
A desassisarção ou a metamorfose consumida
São os cânceres que deixam tua vida louca.

Pontífice da sacra ordenação
 Confessavas já desde de menino
Para do padre beber o vinho
E tirar o gosto com o pão do sacristão.

O teu estoicismo é pura inconcludência
Por não perceber que não era no organismo
Que carregavas o gen de todas as doenças
Por isso morreste no ostracismo.

Teu nascimento foi como um orto
Mas, não conseguiste conduzir tua ortobiose
De dia, te parecias como um morto
À noite, te deleitavas com a ritual neurose.

Agora caminhamos, lado a lado, por essa vida louca
No além meu amigo, cada um à sua maneira
Tu, com tua cirrosenta bebedeira
Eu, com o meu tísico cigarro na boca.
Ao amigo atayde
CARBONIZAÇÃO DA ESPÉCIE

Nos campos amazônicos das queimadas
Minha face enruguece precocemente
Vendo tantas celuloses derrubadas
Por um motorizado dente indecente.

Cada essência em alta combustão
Cria-me na mente uma idéia apodrecida
Vendo a biodiversidade em perfeita extinção
E uma Amazônia impregnada de ferida

Nos talvegues pelo mercúrio assoreados
Com a chuva ácida que o freático polui
Meu sangue escorre pelos leitos contaminados
Na biodinâmica nem o fungo evolui.

Na fotossíntese do gás carbônico
O relacionamento já de vez se aniquila
Pela morte prematura do ozônio
Ou que sabe pela palidez da clorofila.

Esse mortífero instrumento contundente
Ceifando o que é bom e não ruim
Faz-me tremer até o dente
Ah! Quisera fosse o dente do cupim.

Carcomido no chão só resta o cerne
Teu maldito corte é tão profundo
Que servirá como abrigo para o fétido verme
Aumentando a capitalista fome no mundo.

Nutrindo o câncer da toupeira
Provocando na embriológica vida a artrose
Vicejando o broto da cegueira
De deus que não elimina de vez essa virose.
SÍNDROME DE UM CONDENADO
Produto da cópula indecente
Filho da praga que hoje o mundo devora
Desprezível pela tísica do demente
Cria da ignóbil existência de outrora.

Divisor das putrefáticas sociedades
Hospedeiro do verme lazarento
Criador de bisonhas anormalidades
Monstro medonho do infecundo purgamento.

Resultado bastardo da nefasta noite de orgia
Sangue oriundo do útero neoplasicamente menstruado
Vaticinado na carniceira poligamia
Excremento pelo glúteo abortado.

Vítima de um mundo irracional
Segregação sem dó ou piedade
Visto como um leproso animal
Ante esta hipócrita sociedade.

Resto do que sobrou do obscuro cepticismo
Do proscrito homem amaldiçoado
Desde das entranhas já desgraçado
E inóspito no organismo.

A epidemia do sangue contaminado
Por um vírus nem nas trevas imaginado
Mas, fecundado e sobre este polenizado
Tornando-se o óvulo segregado.

A multiplicação das moscas pelo pus
Que do zigoto proliferando ao pó conduz
Durante o vôo sobre a podridão da santa cruz
Na velocidade de vinte mil milhões de anos-luz.

Verme no ínfimo da matéria carbonizada
Patologia pelo legista diagnosticada
Ainda que prematuramente analisada
Embrião na insignificante vida começada.

Síndrome da deficiência e da loucura
Reticência entre insanidade e razão
Agouro que mesmo morto não tem cura
Adquirida durante a hedionda concepção.
VERSOS AO PULSILÂNIME SANTO

Deus! Veja agora minha carne crua
Lutuoso encontro-me chorando
Este verme que meu ser vem devorando
É também uma formidável obra tua.

Cristo num horizonte nunca visto
Muito embora sejas três em um
Não te encontro em lugar nenhum
E já nem sei se ainda tu és misto.

Na ansiedade dessa agonia
Teu indigente perdão imploro
Sobre o túmulo do leproso imploro
Recordando a santa profecia.

Tal qual um anjo viria
O monstro por ti criado
Na mesma pedra ainda espero sentado
Onde sentou o verme de tanta hipocrisia.

Cobre-me agora com a capa
Tirada da sagrada escritura
Vejo-te preparando minha septicêmica sepultura
E também minha face à outra tapa.

Criação da tua onisciente insanidade
Monstro da argila preparado
No Edem, a maçã não foi o pecado
O pecado foi o conhecimento da verdade.

Hoje esse desolhado sem direção
Não passa de uma apenada alma
Desde a epigênese amaldiçoada
Por ti, dito o Deus da criação.
O RECÉM NASCIDO

A rua entupida de bueiros
Fermentando em meu pé massa fecal
Entope-me a fossa nasal
Do excremento lavado dos cueiros.

Era o nascimento da minha prole
Que já brotava com o legado da miséria
Trazia no peito a dispnéia
E no sangue o cromossomo de um pai miolo mole.

Louco, parecia ter vindo de um abismo profundo
Lábios, os mais formosos leporinos
Somos de sangue consangüíneos
Meu filho, já nasceu devorado pelo mundo.
Ao meu fulho, Paulo Josué sosinho
O EXORCISTA
Com tua maldita água benta
Exorciza-me asqueroso padre
Tira-me esse verme que desde a madre
Minha inclemente alma atormenta.

Toma padre meu esqueleto escarnado
Desmembra-o, faz da tíbia e do perônio a fogueira
De certo, fêmur e úmero queimarão à noite inteira
E farão deste esqueleto o teu assado.

Toma Deus, minha alma sem apelo
Sei que a queres para a penitência
Não terei do padre mais a clemência
E não será Átila, mas eu, o teu flagelo.
O ORTO DA VELHICE
 A urina esvai-se com dificuldade
Quem sabe da bexiga espremida
Estaria pela sangrenta hemorróida comprimida
Ou pela próstata anunciando a realidade.

O coração sua aorta já é safena
O tempo avançado o torna idoso e cansado
Procriando mais um velho enfartado
Ou um paralítico entrando em cena.

Deito-me abraçado com a rugosidade
Parceira antagônica do ufanismo
Cansado pelo desgastado organismo
Rendo-me ao cronologismo da idade.

Somos três, eu, a velhice e a mente lerda
Não! Cinco. Resta-me a cadeira e a cama
O reumatismo atirou-me e esta lama
E a mielopatia cervical metamorfoseou-me nesta merda.

Caminhada lenta, pelo galo no calcanhar
Olhos doentes, anunciando o glaucoma
Quem sabe da cegueira o sintoma
Da epicondilite que meu braço vai amputar.

Neurônios, tecidos, corpo, enfim, tudo necrosado
Fragmentos da fragilidade biológica
Gametas da ruptura neurológica
Alimento para o verme esfomeado.

A cisma não era da bactéria
Nem do bacilo que meu corpo perfurava
Era da psoríase que no meu ser tanto coçava
Devorando pouco a pouco esta matéria.

Minha morte se avizinha como um raio
Como um raio minha morte se avizinha à toa
Célere como a água que adentra na canoa
E como um raio célere da canoa saio.
AMANDO AMANDA

Aurora horizontal da minha sedução
Andar contigo ao meu lado
É viver atormentado pelo passado
Amargurando tua maldita traição.

Minha imaginável quimera
Beijar tua boca carnosa
É morrer em água tempestuosa
Imaginando o maremoto que me espera.

Aljôvar de concha de cristal
Olhar teus belos dentes de marfim
É sofrer nos teus perfumados seios de jasmim
Sufocado pela dor de ser mortal.

Ninfa, nos meus sonhos és a rosa
Acalmar tua fúria em tenros afagos
É comer o limo dos rasos lagos
E ainda cantar-te em verso e prosa.

Dádiva que a natureza pariu
Acariciar teu rosto em esmeralda lapidada
E lembrar da vida pranteada
Quando teu amor em outros afagos me traiu.

Amor de tanta perdição
Encontrar teu amor algures
É apagar tua sombra alhures
E perpetuar tua imagem no meu coração.
CRISTINA

Caminhar contigo ao meu lado
Amando-te loucamente
É viver utopicamente
É sentir o doce sabor do pecado.

Ris quando és musicalizada
Choras quando machucam tua beleza
Sonho em sentir tua grandeza
Beijando os lábios de tua boca salivada.

Isso só será possível
Quanto teus olhos se abrirem
Para verem as flores reflorirem
Nesse jardim de magia inesquecível.

Serás sempre a doce ilusão
Serás sempre amante do amor liberdade
Serás sempre minha cara metade
Serás sempre a metade de um coração.

Idilicamente não posso ser teu
Mas, tu podes ser o meu amor faceta
Jamais serás minha doce Julieta
Mas, eu serei teu eterno Romeu .

Não há mais brilho em tua verde retina
Nem cor nos teus olhos verdes
Se agora já não me vedes
É porque não me credes Cristina.
CAMINHO

Tâmifa de olhos negros formosos
Cujos cabelos a brisa beija e balança
Caminhas com garbo e elegância
Sorris com vermelhos lábios cheirosos.

Relíquia de cabelo negrejado
De quem as tranças balançam na ventania
Sinto nos teus olhos a magia
Do amor de receios aureolado.

Irisarás eternamente o caminho
Onde teu amor lapida minha estrada
Transformando teu olhar em esmeralda
Fazendo do teu corpo o meu ninho

Tempestade de volúpia e furor
Como posso deixar de te ver
Se quando durmo acordo pra morrer
Se quando acordo durmo no teu amor.

Insinuação de amor e perdição
Em tua face o sol reluz
O esplendor que ninh’alma seduz
O amor que me devora o coração.

Nácar em concha de coral
Vejo a neve que sombreia
Tua face tecida na areia
No espelho dos teus dentes de cristal.

Amor do mais puro jasmim
Rosa que decora o meu manjar
Creio um dia hei de beijar
Os teu belos lábios de carmim.
O FARO

Pelos bordeis onde estão minha raízes
E como cão fareja o orto das cadelas
Vejo na escuridão digitado o nome delas
Então sinto o cheiro do cio das meretrizes.

Cheiro de puta, faro de cão, enfim
Estão encruados no meu peito
O cheiro revela-me a dama
querendo levar ao leito,
o faro leva-me à lama
e diz-me que é uma dama da noite sim.

Não sei se é puta ou se é dama
Não me importo também se não é virgem
Se é donzela ou se não tem na vida origem
Só sei que ambas gozam na minha cama.

O micróbio da devassidão deita comigo
A bactéria da libidinagem corroe a minha glande
O vírus da promiscuidade me é, imensamente grande
O bacilo canceroso em mim vê seu abrigo.
NOITES DE AGONIA
O INFERNO
Sento-me na pedra contaminada, sorrindo
Esperando o dia que vai chegar a imensa onda
O grito de São Pedro estronda
Eis que vejo a porta do inferno se abrindo.

Meu olhar espantado vacila em qualquer direção
Observando os que na onda agora se afogam
Santos e profanos em desespero se afobam
Tentando fugir desse mar de punição.

Ela chegou sem misericórdia de ninguém
Queimando tudo que encontra à sua frente
Com fúria louca impetuosamente
Engolia rico, pobre, pecador e até santo também.

Pitágoras calculava metricamente
Como faria para Dali escapar
Tentava em vão com seu triângulo o inferno mensurar
Enquanto Mussolinni nadava e ria alegremente.

Madre Teresa também estava no meio do choro
Não entendia como isso pode acontecer
Tinha livrado muita gente de sofrer
E não conseguiu livrar seu próprio couro.

O padre que me deu a extrema-unção
Em qualquer coisa se agarrava
Inclusive se agarrando numa flecha que passava
Encravada na carcaça de São Sebastião.

O navio com sua bandeira flamejante
Abalroava-se entre tantas naus ardentes
Eram os corsários com suas ordens inclementes
Que gritavam tal como o louco Dante,

Hipócrates com seu primeiro esquartejado
Agora olhava sua faca, completamente desconexo
Não via idade, raça clero ou sexo
Só vias suas cobaias, consigo queimando lado a lado.

Hoje as cruzadas são feitas no inferno
E os cavaleiros ainda pensam que podem ir além
Queimando tudo para libertar Jerusalém
Fingem não saber que já estão no fogo eterno.

A formosa Helena, que não larga o seu posto
Olha para cima e enxerga um clarão
Imaginando ser a luz da salvação
Não! Apenas uma labareda para queimar seu belo rosto.

Ao meu lado duas bocas vociferavam
Eram duas figuras que há muito não se via
Estariam lamentando a intensa agonia?
Não! Eram Hitler e Dada que como loucos se beijavam.

Moisés que nadava sem largar o caduceu
Queria por força sair dali voando
Vendo suas serpentes que já estavam se torrando
Suas asas não abriram, e de vez enlouqueceu.

E a lava contumaz em esguicho escaldante
Cada vez mais de mim se aproximava
Comecei a sentir que minha alma esquentava
E não tinha também como sair da fogueira sabrecante.

Lembrei-me, que em meu bolso havia o fim da minha sina
A milagrosa mistura de sicuta e morfina
Como um troféu levanto minha mão com adrenalina
Puta que pariu , esqueci da maldita ave de rapina.

E as aflições a todos continuavam
Que ardiam na lava bestificados
Imploravam pelo fim da expiação de seus pecados
Quanto mais imploravam, mais seus pecados aumentavam.

Padre Cícero Romão, que dizia não ter pecado
Quando deu a Lampião o seu perdão
Pedia ao diabo agora compaixão
Mas, esquecia que a batina o havia condenado.

Por isso estou neste fogo conformado
Com essa brasa queimando minha língua
Pelo menos no inferno não vivo à míngua
E nem sou o socialmente escarnado.

E não adianta agora Lucrécia se lamuriar
Cada um trás do berço seu destino
Deveria saber que por comer tanto menina quanto menino
Um dia isso tudo teria que pagar.

Ainda que no caldeirão todos gritem
 Não querem olhar para trás
Só dizem que na vida pecado nunca mais
Mentirosos, é bom que no inferno seus corpos fritem.

Salim, Davi, Levi sorriam ao meu lado
Só queriam saber como ficariam a raça pura
É que no inferno não existe boa mistura
E de concentração já estavam acostumados.

O sonho finalmente se havia realizado então
Desse homem que contra o fogo muito tem lutado
Ainda que no inferno já esteja sabrecado
O bombeiro ainda está com sua mangueira em prontidão.

Hoje tanto certos quanto errados
Já compreendem com clareza
Que não importa, santo profano ou natureza
Todos hão de pagar bem caro no inferno seus pecados.

Enfim a luz clareou a mente deste inútil
Lá vou como louco ao purgatório
Talvez como bode expiatório
Ou quem sabe à morte ser mais útil.
NOITES DE AGONIA
O PURGATÓRIO
Eis-me de volta, pior que antes
Ainda que prematuramente
Fui ao inferno ter com Dante
E retorno carcomendo o próprio dente.

Sinto minha alma cansada
De tanto em vida penar
Senhor! Poderia minh’alma se curada?
Deus! Poderia minha dor cicatrizar?

Senhor, não porque em vida tenho pecado
É que vosso perdão imploro
Mas, por não haver notado
O quanto é fácil te amar.

Senhor, olho incontinente para cima
Na vã tentativa de te ver
O inferno seria a minha sina?
Sofro por na morte não te ter

Arrependo-me agora verdadeiramente
De todos os meus pecados
Porque na vida fui indecente
E na morte meus atos são condenados.

Por isso senhor, agora
É de todo o meu coração
Que venho te pedir nesta hora
Misericórdia para minha podridão.

Senhor, ainda que tenhas sido crucificado
Tendes piedade da minh’alma
Tu que nesta cruz ostenta meu pecado
Vê senhor, se minha dor acalma.

Senhor, do monte das oliveiras
Torna-me senhor, menos indolente
Tira da minha boca as asneiras
Suplico-te Cristo, de forma inclemente.

Tu exposto no alto, nesta estaca de madeira
Com teu sangue lavando esta podre terra
Que pecou sua história inteira
E ainda assim sua vida de pecados não encerra.

Cordeiro sacrificado na cruz da injustiça
Unge com teu bálsamo esse corpo desnutrido
Longe do teu caminho, do teu amor e da tua justiça
Vago neste mundo como um morto carcomido.

Senhor, quisera eu assistir ao formidável
Dia da tua gloriosa redenção
Quem sabe o dia da minha salvação
Para ser teu servo inseparável.

Senhor, espero-te ansiosamente
Como o homem cansado de sofrer
Que já não suporta tanto padecer
Mas, se preciso, espero-te eternamente.

Senhor, toma um pouco do meu sofrimento
Deus, quando eu cair no chão
Segura a minha mão
E leva-me para o refrigério do teu firmamento.

Oh! Cristo do sermão salvador
Ajuda esta insipiente criatura
A aprender em tua sagrada escritura
A viver na paz do eterno criador.

Senhor, quando eu me sentir sozinho
E eles vierem de noite me atormentar
Não permite que eu saia do caminho
E que minha mão não volte sangue derramar.

Quando meu caminho estiver na escuridão
Dá-me de dia o sol, como dádiva pela minha ignorância
À noite a lua, como presente o seu clarão
Noite e dia, a estrela com sua eterna rutilância.

Senhor, quando eu me sentir cansado
Dá-me por um segundo um abraço
Abre-me teu braço sombreado
E deixa-me descansar à sombra do teu mormaço.

Senhor, onde está o te amorr eterno?
Muito embora sejas três em um
Procuro-te, mas, não consigo sair deste inferno
Quanto de vejo, não estás em lugar nenhum.

Creio senhor, que ainda me falta
Muito para chegar a ti
Tento de tudo com minha vã filosofia alta
Diz-me senhor, o que está de errado aqui.

Senhor, quando me faltar a visão da tua candeia
Dá-me a audição da tua vitória
Quando me faltar o paladar da tua ceia
Dá-me o tato da tua glória.

Senhor, quando eu me sentir tão transcendente
Lembra-me que não sou onisciente
Quando eu me sentir tão polivalente
Lembra-me que não sou oniparente.

Senhor, quando eu me sentir tão egocêntrico
Lembra-me que não sou onipresente
Quando eu me sentir tão antropocêntrico
Lembra-me que não sou onipotente.

Senhor, quando eu estiver perdido
Só tu podes me achar
Quando eu estiver ferido
Só tu podes me curar.

Senhor quando estiver na vida escravizado
Hei de ver-te, minha vida libertando
Quando estiver na morte me refugiando
Hei de ver-te com as trombetas chegando.

Senhor, quando a chama da perdição
Deixar-me com a alma cheia de mágoa
Não deixa o ódio dominar meu coração
E me limpa com tua abençoada água.

Senhor, quando o frio do meu leito
Impedir de entoar meu canto
Não deixa que o amor congele no meu peito
E aquece-me com o fogo do teu espírito santo.

Senhor, quando o fio da minha esperança
Arrebentar na teia da prostituição
Julga-me segundo tua aliança
E emenda esse fio para o caminho da ressurreição.

Senhor, na nau que leva para o céu
Ninguém pega carona no caminho
Pois bem sei senhor, que lá não é hotel
E ninguém entra como hóspede clandestino.
GUERRA BACTERIOLÓGICA

O tempo e rápido como um raio
Não dá trégua à ampulheta
Da fluorescência da vida saio
À escuridão da morte de um cometa.

Do cone do funil já enxergo a iniqüidade
Permanece exatamente como antes
Retratada fielmente pelo louco Dante
Infernalmente no coração da humanidade.

A cal que forra da prisão a parede transparente
É a rutilância do contaminado calabouço
Cria-me no ser o infecto caroço
Que trará o verme que irá bafejar a minha mente.

O pesadelo da pretérita infância
Metamorfoseia-se na abominável necromância
Leva neste instante à demência
A vontade da execrável incontinência.

Cuspo para cima, a abominação na vida adquirida
Tento sair de baixo, para que na face não me caia
O vento não permite que debaixo dela eu saia
Então a praga vem untar-me a ferida.

Sobre minha cabeça rasga a mortalha
À minha frente, o anu anuncia a epidemia
Sob os meus pés, o verme meu cadáver anuncia
Às minhas costas, reluz o fino fio da tua navalha.

Acordo no dia do meu sepultamento
E perambulo procurando meu destino
Encontro na porta do inferno um menino
Que diz-me- “Chegou o teu momento”.

O vento mudou de direção por segundo
A bactéria que com ele veio, arrancou-me o olho
Cego agora ao féretro me recolho
E meu fantasma sem direção, jaz caminha nesse mundo.

Da vida só ficou a amargura
Da tísica, o bacilo que me levou à sepultura
Da morte, ainda resta a escultura
Para nela idolatrar a sagrada escritura.

Quando morri da indulgência levei o cisto
Não paguei minha dívida com a sociedade
Não tive chance tempo nem idade
Por isso no inferno, deus é o diabo, e não Cristo.

Hoje o meu asco é pela mão que em vida me afagou
Do amigo que minha face cansou de acalentar
Jurou que a morte me faria descansar
Porém, uma pedra como travesseiro me legou.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

GENEALOGIA DE UM VERME

Fator principal da transumância
gene universal do determinismo
principal reprodutor do naniquismo
calos que aram a terra em abundância.

Eterna cria da hegemonia
figura sem berço ou prosápia
filho proscrito da larapia
lúgubre no balança da carroceria.

Monstruosa criatura dos lazaristas
aberração no seio do antropomorfismo
vítima do sarcasmo e do cinismo
híbrido das criaturas teocentristas.

Da morte a certeza, da vida o contra tempo
herdeiro ímpar das marmitas sem alegria
heterogeneidade da desgraça e da alergia
de deus o simplório fragmento.

Verme da terra, sem terra
produto inorgânico da natureza
flagelo desde a inveterada realeza
insciente da inópia desta guerra.

Corpo retalhado, lombo pelo sol curtido
mão atrofiada, pela enxada sangrada
pé rachado, pela longa caminhada
pelo sistema sentenciado, pela lei cuspido.
TORRÃO GANGRENADO

Minha Terra tem cem terras
Sem-Terras existem por lá
os latifúndios que cá existem
não se comparam com os de lá.

Nosso Sul-Sudeste tem mais fumaça
nosso Nordeste tem mais sonho
nosso Norte mais desgraça
nosso Centro-Oeste mais pandemônio.

Não quero mais sepultar
os mortos de Marabá
nem mais a cena extrema
filmada em Diadema.

Nunca mais a campanária
maldita noite da candelária
viver também nunca mais
o massacre de Carajás.

Minha Terra tem Federal, Civil e PM
navegando num barco sem leme
no ônibus, que foi que não viu
o horror na linha 174 do Rio.

Creio que assistir outra vez eu vou
a história de Davi e Golias se repetir
e todos hão de comigo convir
que um jatinho derrubou um Boeing da gol.

Até quando irei saber
das desgraças das famílias
que saem dos decretos das “Brasílias”
para com vento a panela do pobre encher.

Queria nunca mais as discrepâncias
no meu sofrido Torrão
na máfia das ambulâncias
na cachorrada do mensalão.

Deus! Que eu não volte à Copacabana
para não ver o que será do Rio
ajudando a acabar com o meu Brasil
nessa traficante guerrilha urbana.
A TESUDA
Rumino na boca da tesuda que me chupa
Fujo para suas pernas e dali não saio
Sou agora nada mais que um servo, um lacaio
Nas mãos daquela que me deixa arrombar sua garupa.

Arrombo-lhe agora sua adocicada flor
a força que uso às vezes tapa
o finérrimo buraco de sua lapa
com minhas veias cheias de volúpia vigor.

Impossível não adorar sua língua
quando com saliva meu corpo banha
deliro com o néctar saído de sua entranha
sou seu escravo, nesse amor não morro à mingua.

Sento-a como uma dama em meu colo
ela diz-me que não é a posição dela
levo-a ao chão e a coloco como uma cadela
então sinto suas unhas arranhando o solo.

Só que ser possuída, estocada,chupada, amada
não se importa se é de dia ou de noite
só quer sentir o mais profundo açoite
viro-a e a vejo gemer na mais profunda penetrada.

Agora sinto seu tesão, sua fúria louca
sua mão num vai-e-vem inexorável
seu vigor parece inesgotável
então vejo meu leite jorrar em sua boca.
OS VERSO QUE PRA TI ESCREVI

Leny revivi os momentos que por ti me apaixonei
Na noite em que te conheci
os guardei, pois sentia o meu coração ardente
e pressentia que teu amor era meu, somente
desde então nunca mais a esqueci
e nunca a esquecerei.

Estarei fazendo por ti, versos de saudade
por toda a minha vida
farei versos de amor, de fantasia
farei para descobrir no sonho, a magia
de te amar tanto, minha querida
de sentir esse amor que minh'alma invade.

Nos meus dias de agonia
Irás lembrar do nosso amor de outrora
dos meus versos de encanto
e para enxugar o teu pranto
ajoelhar-te-ás ao pé da aurora
velando por mim todos os dias.

Andarás sempre pela vida afora
amargurando o pedido negado
era apenas gesto, um beijo
era o mais puro desejo
seria o quimérico legado
desse que se vai agora....

Também sentirás o vazio no peito
do amor platônico, insano
da vida que se desfez
e lembrarás outra vez
do louco amor profano
que jaz comigo no leito.

Sentarás sempre para o além-mar
Olhando a vaga que se levantou
Pela brisa do mar contente
De saber que nós fomos somente
O amor que a onda encantou
O prazer que nos fez amar.

Quando olhares e novamente para o mar sem fim
Então olha para o fundo desse mar
E lê o teu nome em todas as pérolas que estão aqui
Então verás que foi assim que eu morri
Querendo a mais linda das pérolas encontrar
Só pra te ver sorrindo pra mim.

Ainda quando pensares que te esqueci
vai ao santo cemitério
e lê tudo que em minha lápide jaz
e ao lê-lo então verás
que lá não há, e nunca haverá algum mistério
são somentes os versos que pra ti escrevi.

Sosinho Souza

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A DAMA DA NOITE

Oh! Luxuriosa dama
Nada em ti via de errado
Muito embora fosse pecado
Deitar-me contigo em tua cama.

Não amanhecia quando comigo estavas
Só anoitecia quando comigo deitavas
Não sei se por dinheiro me aceitavas
Só sei que com loucuras me amavas.

A muito não via tão bela formosura
Ao longe ouvia falar-te todo dia
Sabia que teu manto me cobria
E modelava-te em perfeita escultura.

Teu corpo com um raio de sol resplandecia
Ofuscando-me os olhos e a mente
Cegando-me ao teu ato indecente
Criando-me teu amor entre magia.

Oh! Bela e enigmática dama da escuridão
Cujos lábios inchavam em harmonia
O que eu chamava de amor sem hipocrisia
Os hipócritas chamavam de prostituição.

Queimava-me então a alma em ver-te
Tão pura e deslumbrante ante meu rosto
Que corava por achar-te ao meu gosto
E chorava por amar-te, mas, não ter-te.

Ah! Quando te despia em minha verde pradaria
E deitava-te no aconchego do meu abraço
Sentia a fragrância e o mormaço
Do teu colo que ante minha boca se abria.

Ah! Formosa quimera
Das noites de sonhos e fantasias
Morro no pecado de tuas bruxarias
E não fujo da inquisição que me espera.

De dia o pudor tu perseguias
À noite então te libertavas
Como Lucrécia de amar tanto, matavas
Que eras dama, no amar te esquecias.

Oh! Minha despudorada Cristela
Nada em ti era imperfeito
Adorava em afogar-me no teu peito
E sorria em ser também tua clientela.

Tua boca como um jardim em flor se abria
No teu céu via minha estrela vicejando
Morria como um colibri me embriagando
No néctar da flor que em tua boca refloria.

Toda noite eu morria por não te ver
Todo dia pra ti ver, eu ressuscitava
Era dia quando da morte eu acordava
Era noite quando eu acordava pra morrer.

Hoje enclausurado escrevo nesta parede
O porquê de tanta penitência
Esculpida nesta pedra sois minha demência
Vem amada minha, matar tanta fome, tanta sede.
DAS TRAÇAS ÀS BARATAS

 
Quisera não ver, a desgraçada fome
Sentado com o homem
Na mesa a pensar.

Quisera não ver, a maldita da sede
Deitada na rede
Com a mulher a sonhar.

Quisera não ver, o azedo desgosto
Do feto exposto
Para ciência avançar.

Quisera não ver, o abandonado roubando
Cola cheirando
Para poder se criar.

Quisera não ver, a amargo na língua
No dia da míngua
E o excluído a esmolar.

Quisera não ver, o funesto coveiro
Ganhar seu dinheiro
De uma mãe a chorar.

Quisera não ver, o coração do leproso
Ficar mais asqueroso
Por não poder mais beijar.

Quisera não ver, o tal pecador
Ser tão sofredor
Por não saber mais rezar.

Quisera não ver, o homem caindo
O sangue saindo
Com a morte a bailar.

Quisera não ver, a sina da Maria
Apanhar todo dia
E à noite ter que gozar.

Quisera não ver, o assalariado
Mais escravizado
E a miséria aumentar.

Quisera não ver, o ódio no rosto
Do atalaia no posto
E o inimigo ter que matar.

Quisera não ver, na guerra a batalha
Carregando a metralha
E a baixa ter que altear.

Quisera não ver, a sorte lançada
A paz alcançada
E o soldado ter que se armar.

Quisera não ver, as igrejas inchando
Os hipócritas rezando
E deus não poder perdoar.

Quisera não ver, o milênio romper
A terra aquecer
E o gelo avançar.

Quisera não ver, o dia sumindo
O armagedon surgindo
Para o mundo assombrar.

Quisera não ver, a tecla apertada
A ogiva acionada
Para a criança encantar.

Quisera não ver, a traça roer
A barata sobreviver
Quando cogumelo o mundo pasmar.

Quisera não ver, o furor do eclipse
No apocalipse
Quando a trombeta soar.
A PÁTRIA QUE ME PARIU

Eu sou desse país presidente
Eleito secretamente pelo povo
E estou aqui de novo
Pronto para estripar muita gente.

Eu sou dessa República Senador
Aprendi isso tudo em Roma
Para mim o povo todo é sarcoma
Por isso meto nele sem dor.

Desse povo sou federal
Sanguessuga também é o meu nome
E quanto o povo tem fome
Enfio nele o pau.

O maior eu sou do Estado
O governador liberal de vocês
E gozo feliz toda vez
Que vejo o povo enrabado.

Não me chamo mensalão
Mas, aprendi que roubar é normal
E digo como deputado estadual
Que o povo todo é bundão.

Eu sou o alcaide desalmado
Para muita gente o prefeito
E sei que o povo ri satisfeito
Quando é politicamente estuprado.

Eu sou o edil mais bizarro
Desse povo que me elegeu
Não foi ele quem me fodeu
Mas, foi nele que cuspi meu catarro.

Eu sou o famoso Zé Funil
O único que dá esclarecimento
E digo que a maior vergonha do Brasil
É o seu próprio parlamento.

Eu sou o povo desse Brasil
O meu direito ta na mão do bandido
Ta no carnaval, na minha magia
Por isso levo a vida sempre fodido
Porém, agradecendo a deus por minha agonia
Nessa pátria que me pariu.
DESTINO X CAMINHO
PRIMEIRA PARTE

Sempre procurei entender em vão
Destino e caminho, entre o certo e o errado
O certo seria por deus não ter perdão?
Ou o errado seria pelo diabo ser perdoado.

Então busquei na vasta sapiência dos loucos
O destino desse sábio parecer
O caminho me mostrou que eram poucos
Os loucos que me disseram que....

O destino de deus é o eclipse
O caminho do profeta a vaticinação
O destino da humanidade não seria o apocalipse
Se o caminho do anjo não fosse a celestial rebelião.

O destino de Adão é o paraíso
O caminho de Eva a costela
O destino de Caim seria o juízo
Se o caminho de Abel não fosse a cheirosa vitela.

O destino de Noé é a incerteza
O caminho do bicho a marca
O destino do dilúvio não seria a correnteza
Se o caminho do perdão fosse a arca.

O destino de Sodoma é a perdição
O caminho de Gomorra o mal
O destino de Lot seria o perdão
Se o caminho da teimosia não fosse a pedra de sal.

O destino de Abraão é a multidão
O caminho de Sarah é Agar se apartando
O destino de Ismael seria uma nação
Se o caminho de Isaque não fosse a fogueira queimando.

O destino de Israel é o cozido
O caminho de Jacó a mão
O destino de Esaú não seria esquecido
Se o caminho de Rebeca não fosse a enganação.

O destino de José é o Egito
O caminho do faraó a adivinhação
O destino do hebreu não seria aflito
Se o caminho do nilo não fosse a fertilização.

O destino do israelita é o edifício
O caminho da pestilência, Moisés
O destino do primogênito não seria o sacrifício
Se o caminho das pragas não fosse Ramessés.

O destino de Arão é o deserto
O caminho de Josué, o muro de Jericó derrubado
O destino do peregrino seria reto
Se o caminho do rebelde não fosse o bezerro sagrado.

O destino do redemoinho é a tentação
O caminho da mulher, a boca amaldiçoada
O destino da chaga seria a cicatrização
Se a lepra de Jô não fosse sagrada.

O destino da força é Sansão
O caminho do cabelo, o discernimento
O destino de Dalila não seria a traição
Se o caminho do enigma, não fosse a queixada do jumento.

O destino de Saul é o gigante
O caminho de Davi, Golias
O destino de Bate Sebá seria, amante
Se o caminho de Salomão não fosse Urias.

O destino da criança é a observação
O caminho da mãe, na dor de parir
O destino da espada não seria Salomão
Se o caminho da estulta não fosse fingir.
O destino da arca é a aliança

O caminho do templo o fim
O destino da Babilônia não seria a matança
Se o caminho de Nabucodonosor não fosse comer capim.

O destino da pedra é a torá
O caminho do papiro o budismo
O destino do pergaminho seria alá
Se o caminho do rolo não fosse a face do cristianismo.

O destino de Tibério é a depravação
O caminho de Messalina indigesto
O destino de Olívia não seria a depravação
Se o caminho de Calígula não fosse o incesto.

O destino de Nero é a loucura
O caminho de Baco a razão
O destino do cristão seria a armadura
Se o caminho da arena não fosse o leão.

O destino do espírito é o Jordão
O caminho do discípulo a fé
O destino do crente seria a ressurreição
Se o caminho da Voz no Deserto não fosse Salomé.

O destino de José é a escultura
O caminho de Maria a moldura
O destino de Madalena seria a pedra dura
Se o caminho de Jesus não fosse a sagrada escritura.

O destino de Judas é a traição
O caminho de Pedro a luz
O destino de Tomé não seria a visão
Se o caminho de Cristo não fosse a cruz.
DESTINO X CAMINHO
SEGUNDA PARTE

Ainda assim não conseguia mensurar
A distância entre certo e errado
O certo poderia sozinho caminhar
Ou o errado estaria umbilicalmente a ele ligado.

Foi então que o destino me ver fez
O difícil caminho de saber
Que o certo ta errado toda vez
Que o errado estiver certo porque....

O destino da cratera é o vulcão
O caminho do mar o seno
O destino de Gaia não seria a glaciação
Se o caminho do cósmico fosse abioceno.

O destino da espécie é o genocídio
O caminho da conquista o metal
O destino do caverna não seria o etnocídio
Se o caminho da lança não fosse letal.

O destino do nada é a escrita
O caminho do troglodita a mitose
O destino da caverna seria a escuridão infinita
Se o caminho do tudo não fosse a metamorfose.

O destino da comunidade é o nosso
O caminho da sociedade é, o meu e o seu
O destino do fraco não seria , o nosso é vosso
Se o caminho do forte, não fosse o teu é meu.

O destino de Tróia é a Micenas
O caminho de Aquiles, Heitor
O destino da Tessália seria as Helenas
Se o caminho de Paris não fosse sedutor.

O destino de Príamo é o Egeu
O caminho de Ulisses o cavalo de pau
O destino de Agamenon seria ateu
Se o caminho de Apolo não fosse Menelau.

O destina da grandeza é a Macedônia
O caminho de Alexandre a Alexandria
O destino do grande não seria a insônia
Se o caminho do pequeno não fosse maria.

O destino do Egito é a fertilidade
O caminho do Nilo a fartura
O destino do rei seria a imortalidade.
Se o caminho da pirâmide não fosse a sepultura.

O destino da Fenícia é o mar além
O caminho da nau o mar aberto
O destino do comércio não seria o armazém
Se o caminho do fenício não fosse o alfabeto.

O destino do senado são os tributos
O caminho do gladiador a epopéia
O destino de Roma seria Brutus
Se o caminho da revolução não fosse o mar da Galiléia.

O destino do senhor é a riqueza
O caminho do servo é o feudo
O destino do artesão não seria a pobreza
Se o caminho do burguês não fosse o capital pseudo.

O destino do profano é a santificação
O caminho do santo a profanação
O destino do padre seria a salvação
Se o caminho da freira não fosse a sedução.

O destino do andarilho é a Jerusalém
O caminho do cavaleiro a cruzada
O destino do papa seria o além
Se o caminho do nobre não fosse a espada afiada.

O destino do rato é o porão
O caminho da peste o oriente
O destino da mercadoria seria a comercialização
Se o caminho do burgo não fosse choro e ranger de dente.

O destino da nobreza é o absoluto
O caminho da bruxa a inquisição
O destino do miserável não seria o luto
Se o caminho de Joana não fosse a queimação.

O destino das trevas é a luz
O caminho da escuridão as Helenas
O destino das artes seria o pus
Se o caminho dos eruditos não fosse os mecenas.

O destino do sábio é a criação
O caminho de Erasmo a indecência
O destino de Calvino não seria a ambição
Se o caminho de Lutero não fosse a indulgência.

O destino do estudioso é a santidade
O caminho do pecador a heresia
O destino do cristão-novo não seria a sacanagem
Se o caminho do índio não fosse a companhia.

O destino do fardo é o lombo
O caminho do livre o ronco
O destino do negro seria o quilombo
Se o caminho do escravo não fosse o tronco.

O destino dos maias é o zero
O caminho dos astecas o coração ensangüentado
O destino dos incas não seria o clero
Se o caminho dos marajoaras não fosse o europeu contaminado.

O destino do império é o ouro
O caminho do derrama o legado
O destino de Joaquim seria o louro
Se o caminho de Tiradentes não fosse na forca esquartejado.

O destino do herói é o cadafalso
O caminho da louca a guilhotina
O destino do Boca seria o poema falso
Se o caminho do governador não fosse ave de rapina.

O destino do poeta é o segredo
O caminho da poesia a verborragia
O destino do inferno não seria o degredo
Se o caminho da igreja fosse a liturgia.

O destino do sacristão é a ladainha
O caminho da ordem a eucaristia
O destino do bispo não seria o coroinha
Se o caminha de cópula de padre e freira não fosse a sacristia.

O destino de Maria é o sertão
O caminho do cangaço, arisco
O destino de Cícero seria a compunção
Se o caminho de Lampião não fosse Corisco.

O destino de Canudos é a irmandade
O caminho da milícia o homicídio
O destino de Conselheiro seria a igualdade
Se o caminho do Estado não fosse o genocídio.

O destino do capitalismo é a crise
O caminho da guerra a fome
O destino do socialismo não seria reprise
Se o caminho da produção, não fosse a ganância do homem.

O destino da força é a apropriação
O caminho do trabalho a sangria
O destino da mão-de-obra não seria a escravidão
Se o caminho da jornada não fosse a famigerada mais-valia.