NECROFÍLICO VÔO DAS MOSCAS
Busco no vazio do prato, o extermínio da fome
Encontro apenas meu filho acamado
Chorando sobre o sangue melenado
Culpando a omissão do deus-homem.
Sinto o estômago comprimido pela míngua
Que alimenta essa estéril terra
A desnutrida filha que no chão agora berra
Chora a fome comendo a própria língua.
Meus olhos não conseguem enxergar
Durante o dia a bactéria escondida
Que à noite sai para fazer-me sua comida
Nessa cadeia, até deus tem que se alimentar.
Caminho enfraquecido pela desnutrição
Das minha pernas e pela falta de neurônio
Este cadáver já não é mais tão medonho
Apenas um avanço na cerebral desoxigenação.
Nesta abiose, minha neurose quer apenas ver
Este esqueleto ser, agora cianótico
Esperar o verme que irá me devorar o nervo óptico
Esta putrefática matéria ter um dia o que comer,
À minha filha Marylee
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
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