quarta-feira, 30 de setembro de 2009

DESTINO X CAMINHO
TERCEIRA PARTE

Bem sei que ainda estou incipiente
Na minha ínfima insanidade
Mas, já posso perceber que é no destino do demente
Que está o caminho da humanidade.

Talvez um dia eu tenha siso
Suficiente para escrever de improviso
O destino do certo que é indeciso
E o caminho do errado que é preciso.

O destino de São Jorge é a espada
O caminho da lua ta na quimera
O destino do dragão seria a chama apagada
Se o caminho do C.F.C.não fosse a atmosfera.

O destino do ganhador é a glória
O caminho do perdedor ta na humilhação
O destino do bastardo seria a escória
Se o caminho da fama não fosse a ambição.

O destino do corpo é a chaga
O caminho do carrasco ta na face escondida
O destino do cão seria a praga
Se o caminho de Lázaro não fosse a ferida.

O destino do predador é a caça
O caminho do caçador ta na presa
O destino da bomba não seria a ameaça
Se o caminho do cogumelo não fosse a natureza.

O destino do inquisidor é enigmático
O caminho do inquirido ta no revertério
O destino do universo seria pulsático
Se o caminho de deus não fosse um mistério.

O destino do vagabundo é a sarjeta
O caminho do aborto ta no banheiro
O destino da fome seria como um cometa
Se o caminho do político não fosse o dinheiro.

O destino do matador ta na surpresa
O caminho do pistoleiro na precisão
O destino do traidor não seria a sutileza
Se o caminho da bala não fosse o coração.

O destino da vida é o zigoto
O caminha do endométrio, a concepção
O destino do feto não seria o esgoto
Se o caminho do aborto fosse a legalização.

O destino do barco é o horizonte
O caminho do carro ta na estrada
O destino do avião seria acima do monte
Se o caminho da fama não fosse a mente cansada.

O destino do amargo da abelha é o mel
O caminho do antídoto da cobra ta na peçonha
O destino do sabor na língua não seria o fel
Se o caminho do esclarecido não fosse a insônia.

O destino do lsd é o orgulho maldito
O caminho da heroína ta na avareza construída
O destino do êxtase não seria a ira de um pai aflito
Se o caminho da cocaína não fosse a luxúria de uma vida destruída.

O destino da maconha é a gula sem sorriso
O caminho do craque ta na preguiça sem glória
O destino da pasta não seria a inveja sem aviso
Se o caminho dessa alienação não fosse a escória.

O destino do boêmio é a taberna
O caminho da bebida ta na necrose
O destino do intemperante seria a alegria eterna
Se o caminho do cigarro não fosse a tuberculose.

O destino do assaltante é o passageiro
O caminho do policial ta no atalho
O destino do intrépido não seria o dinheiro
Se o caminho do miserável fosse o trabalho.

O destino da enxada é o chão
O caminho do gado ta no capinzal
O destino do verde não seria a combustão
Se o caminho do camponês não fosse o êxodo rural.

O destino da fotossíntese é a vida
O caminho da clorofila ta na oxigenação
O destino da biodiversidadea não seria a árvore caída
Se o caminho da biodinâmica não fosse a extinção.

O destino do Sem Terra é o campo
O caminho do Sem Teto ta na habitação
O destino do lavrador seria o “eu planto”
Se o caminho do agricultor não fosse a demográfica explosão.

O destino da criança é a sapiência
Caminho do discente ta na escola
O destino do menor seria a ciência
Se o caminho da juventude não fosse o que ensina a cheirar cola.

O destino do jovem é a partitura
O caminho do mancebo ta na mente nua
O destino da biblioteca seria a leitura
Se o caminho do pedófilo não jogasse o inocente na rua.

O destino do réu é o promotor
O caminho do júri ta na desgraça
O destino do juiz seria salvador
Se o caminho de advogado, promotor, juiz,  não fosse a cachaça.

O destino do sorriso que condena
É o caminho do olhar que absolve
O destino do dedo que acena
É o caminho da mão que saca o revólver.

O destino do rico é a apoteose
O caminho do pobre ta no revertério
O destino de rico e pobre não seria a necrose
Se o caminho de pobre e rico não fosse o cemitério.

O destino do homem é certo
O caminho do jogador ta na sorte
O destino do Messias seria incerto
Se o caminho da epigênese não fosse a morte.
CANNABIS

Lembro das longas noites de agonia
Quando teus braços me entrelaçavam em magia
Era tua face que na mente surgia
Era o teu dente que me aplicava a mental anestesia.

Quando subia na pupunheira para comer pupunha
Ou quando um trem eu atropelava
Nessas noites de agonia eu te amava
E queria abrir a lata de sardinhas com a unha.

Como Jesus em cima d'água eu andava
Pregando o sermão de Belzebu
Dizia ser mais forte do que tu
Mas, na verdade, eras tu quem comandava.

Maconha, amiga única
de todos os ébrios, companheira
ímpar da noite derradeira
dos moribundos que vestem tua túnica.

TODOS OS CAMINHOS

TODOS OS CAMINHOS

Nessa sepultura onde repousa esta
Minha inorgânica matéria, canto
No silêncio do campo santo
Preces que não respondem os convidados dessa festa.

Estão todos mortos comigo
E cada um festeja a sua maneira
Ontem dançavam a valsa derradeira
Hoje pranteiam a confiança no amigo.

Pranteiam os dias de longos dissabores
Choram a falsa lágrima escapada
Dos negros olhos da mulher amada
Choram o desengano de seus grandes amores.

Pobres amigos, insanos na juventude
Rebeldes como a nuvem passageira
O Mateus coloria a praça inteira
Pro Otávio se perder na vicissitude.

Alberto caminhava lado a lado
Sempre com o utópico marxismo
Vislumbrando a pregação do anarquismo
Pra Roseane se deitar com seu amado.

Helena tão formosa e bela Cristina
perdida em meio a tanta burguesia
não via tanto amor que  havia
no verde  da minha triste retina

A insana Marlete no antro 
Não menos insano o Marcelo era
No IEP, na sua pura quimera
Que nos fazia verte o prematuro pranto.

Mais prematura foi minha magia
Bem mais prematura que meu primeiro dia
Num dia vivi cem anos de agonia
Em cem anos não vivi um dia de alegria.

 Festejarei os dias da minha sorte
Hoje, aqui nesta sepultura santa,
Canta, meu amigo Jurueno, e não te espanta
Porque todos os caminhos levam à morte.

Sosinho Souza

terça-feira, 1 de setembro de 2009

AO AMIGO VENCIDO

Espanta o universo e canta
companheiro triste, e fala
pra mim, porque tua alma cala
nesse momento, em que a vida te espanta.

Diz-me o que sentes nesse dispnéico peito
seria a saudade da feliz outrora
que te faz lembrar da alegre hora
agora que morres nesse funesto leito.

Levanta-te desse leito triste, companheiro
e vê ao longe o dobrar da vida
conquistaste o universo com tua vida sofrida
sofrido caminhas agora para abraçar o coveiro.

Ris agora glorioso Sampaio de Oliveira
tua garganta estúpida e egoísta
arranca os embriões do Jurueno socialista
e planta o gen da intelectualóide asneira.

Como pode um cérebro perfeito extinguir
diante da força poderosa do dinheiro
volvo aos tempos da mocidade primeiro
e lembro-me dizeres “Marx nunca irá sucumbir”.

Grita amigo, grita, que conquistaste o mundo
vês agora o teu olhar tão orgulhoso
no teu universo ficaste tão famoso
eu com o Raul me tornei mais vagabundo.

Dedicado ao meu amigo Júnior ou Jurueno, em razão dos 20 anos de morte do
"Maluco Beleza"

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O ETILISTA

Caminho trôpego, minha veste esfarrapada
mostra o rumo que meus pés me levam
meus ossos na fúnebre e fria tarde se entrevam
se entrevam meus ossos nessa melancólica caminhada.

A fria tarde não me deixa absolutamente nada
pelo caminho exposto ao ridículo e ao léu
busco na fantasmagórica escuridão do mausoléu
uma cama para minha alma embriagada.

Embriagada minha alma está completamente
pela bebida, pela inevitável consumpção
dizem ter de mim compunção
mas na verdade riem de mim alegremente.

Riem com minha desventurada sina
sina que não me veio do berço
adquiri no meu décimo primeiro terço
perpetuei na taberna da esquina.

Diziam ser eu um louco ateu
do melhor amigo ao meu irmão
todo parente, todo amigo era um ladrão
me abandonaram e roubaram o que era meu.

Falsos amigos, eu vos peço e imploro a gritar
a sepultura em que eu repulsar, deixai no mato
pois os vermes irão me tirar do anonimato
quando meu corpo forem devorar.

Me sobrevoa, cerca-me, famigerado abutre
nesse chão queres lamber minha epiderme
não demores, pois ao meu lado já está o verme
que minha putrefática carne nutre.

Bebo e sei o porquê da bebedeira
é ainda nas entranhas das garrafas que procuro
o caminho do meu obscuro
passado de tanta asneira.

Tu foste famigerada louca
a culpada da minha desgraça
quando me deste como água, cachaça
como pão a língua da tua boca.

Bem sabes quando estou embriagado
pois minha pálpebra cai como uma tampa
e a vermelhidão no meu rosto estampa
a revelação do meu cerebelo necrosado.

Me escoro e entrevejo tua bizarra silhueta
me sento e antevejo o que vai acontecer
me deito na certeza que nessa noite irei morrer
me acordo com o cão me lambendo na sarjeta.

É melhor se aquecer com um cão
que deitar em vida contigo
o cão faz-me do chão um abrigo
tu faz-me do abrigo um chão.

Conheço de outrora tua concupiscência
o teu esquizofrênico amor insano
debalde terás o meu amor profano
e eu, a malícia de tua indecência.

Durmo nessa sarjeta, sob intempérie e açoite
pensando se terei amanhã café Café?
até deus tirou-me a fé
acordo e vejo um dia mais escuro que à noite.

Sei que nessa vida, meu câncer é eterno
por isso meu “fiel companheiro” tenha certeza
tu que ris de mim, hoje na nobreza
amanhã estarás chorando comigo no inferno.
ESPÉCIE BABUJADA 

Vi um dia na quentura abrasadora
da floresta que sombreava essa terra
a destribalização tal qual na guerra
dessa raça escravizada e sofredora.

O gentio de certo ainda seria mui gentil
se cá não chegasse a praga européia
que trouxe consigo a gonorréia
do jesuíta cretino e imbecil.

Catequizando implementavam o genocídio
miscigenando invasão com escravidão
obrigando o gentio a ser cristão
E a ver sua raça entrar no etnocídio.

Peles morenas embranqueciam nas cavernas
confinadas pela praga dia e noite
como escambo era chibata e açoite
como pagamento, amputavam-lhes as pernas.

Abutricionavam suas vísceras sem piedade
e o seboso ainda cantava epopéia
a doçura lhes dava nojo e cefaléia
era a desgraça do brasileiro de verdade.

O corsário com bacamarte à tira colo
rastejava como a peçonhenta cascavel
da sua boca destilava o podre fel
contaminando com “tropicais” o doce solo.

Vi um dia o índio posto a correr
contaminado com a usura dessa gente
que usurpou essa Terra diferente
e fadou o curumim a desaparecer.

Vi ao longe entrada e bandeira
entradas, triunfamente preparadas
facões, bacamartes e espadas
convertiam o gentio a sua maneira.

Bandeiradas, em mastros bandoleiras
penduravam do gentil sua carcaça
para o gentio do etnocídio a ameaça
despojo e gloria para as cortes estrangeiras.

Contaminavam e fazia a mente oca
do gentio que se via obrigado
a esquecer Tupã, seu deus sagrado
e adorar a podridão destilada de sua boca.

Fazendo do natural o seu vassalo
vi no olho avarento do leproso
o desejo cruento de subjugar o dócil povo
para transformá-lo em cavalo.

Como o desmoronamento de um barranco
soterrando tudo a sua frente
vi a alma pálida e doente
de uma índia estuprada por um branco.

O músculo tremia-me na mão
tanto quanto uma vara na correnteza
senti no ínfimo a tristeza
de um dia ter nascido Navarro e Aragão.

Vi a amarela contaminada por essa gente
a verde da escravidão sem esperança
a azul de um céu de discrepância
a branca de um carniceiro e indecente.

Comecei a correr, sem rumo e sem sina
para não mais ver tanta carnificina
vendo morte da raça no início
atirei-me ao fundo do precipício.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

A LÓGICA
Não acredito em geocentrismo
Tampouco em heliocentrismo
Há tanta controvérsia entre ântropo e centrismo
Assim como em empirismo e cientificismo.

Talvez Copérnico não tenha tido
Filosofia Ptolomáica suficiente
Para saber que é na cabeça do demente
Que essas coisas fazem sentido.

Vejo-me lado a lado com Spencer
Questionando o antagônico determinismo
Vendo a incerteza do possibilismo
Na lógica da morte que Lablache nunca vence.
AO AMIGO FIEL
Vem meu amigo fiel
tira-me desse mar de lama
acorrenta-me sem piedade à cama
que usaste para vomitar o teu fel.

Lembro-me amigo verdadeiro
Dos outros amigos de outrora
o Marcos com seu direito errado me controla
o Mangabeira com sua avareza, só pensa no maldito dinheiro.

E o Bira Barbosa, que jurou como vitorioso
que jamais nos deixaria entregue à míngua
na primeira esquina mostrou que era mentiroso
eis o Megale agora mordendo a própria língua.

quanta saudade dos Poetas sem direção
com parentescos afins
do transloucado Max Martins
cujos versos nos levavam à reflexão.

O que será do amigo Cavalcante
tão novo e tão demente
estaria nas cartas com o Putitanga doente
ou com o Rocha em sua viagem alucinante.

Carácoles com mil coiotes
o Fernando no meio do uísque sumiu
será que a Loribel o mandou à puta que o pariu
ou a Hiromi que lhe passou diversos trotes.

O Mauro com sua eterna corretice
queria por força consertar todo o mundo
não via que o mundo todo é vagabundo
e que tudo não passa de uma eterna canalhice

O Fernando Flávio e sua eterna agonia
nos presentes de natal e ano novo
queria agradar a todo povo
e até filhos que nem de longe conhecia.

Lembro-me do Bueres com seu violão afinado
trazendo-nos alegria
tocando seu violão todo dia
encantando o Heitor que só vivia embriagado.

Ah! Pobre rapaz inconseqüente
querendo vaporizar a todo instante
era o Ricardo com sua voz alucinante
gritando que a lombra era a paz na sua mente

Ô Milton, não esquece da geladeira
que em Tomé-Açú carregaste
nunca na vida imaginaste
que era tudo uma brincadeira

Termino Amigo Atayde
falando do Jorginho Bacamarte
que a muito não se decide
a deixar esse vício à parte.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

OS VERMES DA REALEZA
 
Vi na faceta das leis escritas
dádiva das mentes imperiais
a via-crúcis de todos os eremitas
cantada em fados e versos sepulcrais.

Não era a chibata que nas costas lhe doía
nem a podridão da senzala em que habitava
era a saudade da Terra que deixava
era a solidão na Terra em que vivia.

Era o ano de mil oitocentos
e quarenta e cinco
o mar, os barcos atravessavam horrendos
enquanto Bill Aberden apertava-lhe o cinto.

O tronco era seu amigo inseparável
era seu cordão sua pulseira
o formigueiro aliviava-lhe do corpo a coceira
o pelourinho, a lembrança dessa raça miserável.

Assim a abolição havia começado
impondo a Inglaterra pseudo respeito
bombardeando, ria da dor no peito
do negro que no porão morria acorrentado.

A cana não lhe embriagava os sentidos
tampouco, adocicava-lhe o estômago
o canavial comia-lhe a carne já no âmago
os que chegavam, já estavam apodrecidos.

A lei do Ventre Esfaqueado
criava para a maldita sociedade capitalista
o particularíssimo gen do câncer egoísta
e declarava ao mundo a Lei do Menor Abandonado.

Ficava, porém, a migalha massacrada
para justificar a gangrenosa derrama
que ao luso significava a dinheirama
e à negra, outra vida enlutada.

Na Sexagenária tudo de podre havia
os barões perdiam a “onerosa” obrigação
de “dar ao negro o pão”
então o Brasil, seu mendigo conhecia.

Nas minas, o sangue banhava-lhe a fronte
para aumentar o banquete da real corte
quando não tinha ouro, tinha açoite
enquanto clero e nobreza, trepavam Atrás-Dos-Montes.

Vieram então os Áureos tempos da sangria
e o negro com o corpo consumido
da escravidão havia saído
para cair na famigerada mais-valia. 
A BESTA
Afasto-me em vão da Besta incandescente
que como um ímã continua me atraindo
ela de súbito surge à minha frente cuspindo
toda melena sugada dessa gente.

Era o embrião da cianótica gangrena
que confirmava o limiar da podre mente
como a milenar estrela cadente
iluminando a prostituição de Madalena.

Maldizente será a leprosa da esquina
por não tê-la ajudado na agonia
sua mão esmiuçada que no chão caia
pedia à Besta um pouco de morfina.

Desconfia da mão que te abençoa
esta Besta tua face beijar nunca deixa
pois a boca que de dia te beija
é a mesma que à noite te amaldiçoa.

A besta nada viu de luz
no mancebo Jesus Cristo
que nunca pensou ser visto
como um herói pregado numa cruz.

Joana D’arc freneticamente galopava com a escória
em direção da fogueira.
Hitler por fazer tanta asneira
também se perpetuava na história.

A Besta não respeitou Lampião
via apenas o padre Cícero Romão
pregando sua maldita compunção
que na prática Virgulino era o ladrão.

Teme a Besta da eterna escritura
aconselhou Conselheiro no sofisma
beatificando um santo sem carisma
e Guevara um herói sem sepultura.

Fujo da Besta incandescente
mas não consigo dela me livrar
onde estou, esta maldita está
é o câncer que está na minha mente. 
A MENTE DE UM VISIONÁRIO

No dia em que o vento em rajada
horripilante sobre a Terra prosperar
vaticinará o caminho da lúgubre vida rachada
do homem que cedo vai se acabar.

Toda vez que a água em correnteza
grotesca sobre a Terra ascender
trará consigo a certeza
que parte da humanidade ira morrer.

No dia em que o fogo em horrendas
labaredas, a Terra consumir
tirará dos olhos as vendas
de todos que irão sucumbir.

Toda vez que a terra plúmbea em estiagem
inclemente sobre a Terra se impor
mostrará a fúnebre miragem
da orgânica matéria que irá se decompor.

E quando no ano de dois mil
e cinqüenta e dois
o gelo despontar no horizonte do céu anil
não haverá mais depois.
A PROSTITUTA

 Quando ela caminha, com vestes deslumbrantes
 Os cabelos em fio, tecidos em trança
 Em seu olhar vejo as insinuações estonteantes
 De um amor criado em meio à dança.

 Bela, tão jovem, e já apodrecida
O rosto já mostra a decomposição
De uma alma pela vida esquecida
De um corpo já entrando no caixão.

Quando pela manhã ela chegava
Com os olhos rotos d’água
A veste como insana desgrenhava
Na cama caia chorando a triste mágoa.

Conheço seu passado infeliz
Um desgraçado amor na sua história
Que a levou à vida de meretriz
Caminha morta em vida, sem amor sem glória.

Hoje já esqueceu a desventurada
Que à noite galopava numa vida sem ética
Sem ética de dia caminha agora abobalhada
Abobalhada contamina a todos, a desgraçada aidética.