terça-feira, 4 de agosto de 2009

ESPÉCIE BABUJADA 

Vi um dia na quentura abrasadora
da floresta que sombreava essa terra
a destribalização tal qual na guerra
dessa raça escravizada e sofredora.

O gentio de certo ainda seria mui gentil
se cá não chegasse a praga européia
que trouxe consigo a gonorréia
do jesuíta cretino e imbecil.

Catequizando implementavam o genocídio
miscigenando invasão com escravidão
obrigando o gentio a ser cristão
E a ver sua raça entrar no etnocídio.

Peles morenas embranqueciam nas cavernas
confinadas pela praga dia e noite
como escambo era chibata e açoite
como pagamento, amputavam-lhes as pernas.

Abutricionavam suas vísceras sem piedade
e o seboso ainda cantava epopéia
a doçura lhes dava nojo e cefaléia
era a desgraça do brasileiro de verdade.

O corsário com bacamarte à tira colo
rastejava como a peçonhenta cascavel
da sua boca destilava o podre fel
contaminando com “tropicais” o doce solo.

Vi um dia o índio posto a correr
contaminado com a usura dessa gente
que usurpou essa Terra diferente
e fadou o curumim a desaparecer.

Vi ao longe entrada e bandeira
entradas, triunfamente preparadas
facões, bacamartes e espadas
convertiam o gentio a sua maneira.

Bandeiradas, em mastros bandoleiras
penduravam do gentil sua carcaça
para o gentio do etnocídio a ameaça
despojo e gloria para as cortes estrangeiras.

Contaminavam e fazia a mente oca
do gentio que se via obrigado
a esquecer Tupã, seu deus sagrado
e adorar a podridão destilada de sua boca.

Fazendo do natural o seu vassalo
vi no olho avarento do leproso
o desejo cruento de subjugar o dócil povo
para transformá-lo em cavalo.

Como o desmoronamento de um barranco
soterrando tudo a sua frente
vi a alma pálida e doente
de uma índia estuprada por um branco.

O músculo tremia-me na mão
tanto quanto uma vara na correnteza
senti no ínfimo a tristeza
de um dia ter nascido Navarro e Aragão.

Vi a amarela contaminada por essa gente
a verde da escravidão sem esperança
a azul de um céu de discrepância
a branca de um carniceiro e indecente.

Comecei a correr, sem rumo e sem sina
para não mais ver tanta carnificina
vendo morte da raça no início
atirei-me ao fundo do precipício.

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