quarta-feira, 29 de julho de 2009

OS VERMES DA REALEZA
 
Vi na faceta das leis escritas
dádiva das mentes imperiais
a via-crúcis de todos os eremitas
cantada em fados e versos sepulcrais.

Não era a chibata que nas costas lhe doía
nem a podridão da senzala em que habitava
era a saudade da Terra que deixava
era a solidão na Terra em que vivia.

Era o ano de mil oitocentos
e quarenta e cinco
o mar, os barcos atravessavam horrendos
enquanto Bill Aberden apertava-lhe o cinto.

O tronco era seu amigo inseparável
era seu cordão sua pulseira
o formigueiro aliviava-lhe do corpo a coceira
o pelourinho, a lembrança dessa raça miserável.

Assim a abolição havia começado
impondo a Inglaterra pseudo respeito
bombardeando, ria da dor no peito
do negro que no porão morria acorrentado.

A cana não lhe embriagava os sentidos
tampouco, adocicava-lhe o estômago
o canavial comia-lhe a carne já no âmago
os que chegavam, já estavam apodrecidos.

A lei do Ventre Esfaqueado
criava para a maldita sociedade capitalista
o particularíssimo gen do câncer egoísta
e declarava ao mundo a Lei do Menor Abandonado.

Ficava, porém, a migalha massacrada
para justificar a gangrenosa derrama
que ao luso significava a dinheirama
e à negra, outra vida enlutada.

Na Sexagenária tudo de podre havia
os barões perdiam a “onerosa” obrigação
de “dar ao negro o pão”
então o Brasil, seu mendigo conhecia.

Nas minas, o sangue banhava-lhe a fronte
para aumentar o banquete da real corte
quando não tinha ouro, tinha açoite
enquanto clero e nobreza, trepavam Atrás-Dos-Montes.

Vieram então os Áureos tempos da sangria
e o negro com o corpo consumido
da escravidão havia saído
para cair na famigerada mais-valia. 

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