segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

GUERRA BACTERIOLÓGICA

O tempo e rápido como um raio
Não dá trégua à ampulheta
Da fluorescência da vida saio
À escuridão da morte de um cometa.

Do cone do funil já enxergo a iniqüidade
Permanece exatamente como antes
Retratada fielmente pelo louco Dante
Infernalmente no coração da humanidade.

A cal que forra da prisão a parede transparente
É a rutilância do contaminado calabouço
Cria-me no ser o infecto caroço
Que trará o verme que irá bafejar a minha mente.

O pesadelo da pretérita infância
Metamorfoseia-se na abominável necromância
Leva neste instante à demência
A vontade da execrável incontinência.

Cuspo para cima, a abominação na vida adquirida
Tento sair de baixo, para que na face não me caia
O vento não permite que debaixo dela eu saia
Então a praga vem untar-me a ferida.

Sobre minha cabeça rasga a mortalha
À minha frente, o anu anuncia a epidemia
Sob os meus pés, o verme meu cadáver anuncia
Às minhas costas, reluz o fino fio da tua navalha.

Acordo no dia do meu sepultamento
E perambulo procurando meu destino
Encontro na porta do inferno um menino
Que diz-me- “Chegou o teu momento”.

O vento mudou de direção por segundo
A bactéria que com ele veio, arrancou-me o olho
Cego agora ao féretro me recolho
E meu fantasma sem direção, jaz caminha nesse mundo.

Da vida só ficou a amargura
Da tísica, o bacilo que me levou à sepultura
Da morte, ainda resta a escultura
Para nela idolatrar a sagrada escritura.

Quando morri da indulgência levei o cisto
Não paguei minha dívida com a sociedade
Não tive chance tempo nem idade
Por isso no inferno, deus é o diabo, e não Cristo.

Hoje o meu asco é pela mão que em vida me afagou
Do amigo que minha face cansou de acalentar
Jurou que a morte me faria descansar
Porém, uma pedra como travesseiro me legou.

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