O ORTO DA VELHICE
A urina esvai-se com dificuldade
Quem sabe da bexiga espremida
Estaria pela sangrenta hemorróida comprimida
Ou pela próstata anunciando a realidade.
O coração sua aorta já é safena
O tempo avançado o torna idoso e cansado
Procriando mais um velho enfartado
Ou um paralítico entrando em cena.
Deito-me abraçado com a rugosidade
Parceira antagônica do ufanismo
Cansado pelo desgastado organismo
Rendo-me ao cronologismo da idade.
Somos três, eu, a velhice e a mente lerda
Não! Cinco. Resta-me a cadeira e a cama
O reumatismo atirou-me e esta lama
E a mielopatia cervical metamorfoseou-me nesta merda.
Caminhada lenta, pelo galo no calcanhar
Olhos doentes, anunciando o glaucoma
Quem sabe da cegueira o sintoma
Da epicondilite que meu braço vai amputar.
Neurônios, tecidos, corpo, enfim, tudo necrosado
Fragmentos da fragilidade biológica
Gametas da ruptura neurológica
Alimento para o verme esfomeado.
A cisma não era da bactéria
Nem do bacilo que meu corpo perfurava
Era da psoríase que no meu ser tanto coçava
Devorando pouco a pouco esta matéria.
Minha morte se avizinha como um raio
Como um raio minha morte se avizinha à toa
Célere como a água que adentra na canoa
E como um raio célere da canoa saio.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
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