segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

NECROFÍLICA ARMADILHA


Uiva-me na noite o inexorável acraniota
A voz onomatopéica do lobo
Conduz-me à armadilha como um bobo
Armada pela avarenta mão do agiota.

Os caninos revelam nessa maldita hora
A verossimilhança entre o lobo e a hiena
O primeiro faz-me sua presa sem pena
A segunda minha carcaça devora.

Era a escuridão da mente que me assombrava
Fazia-me gemer, tremer o corpo todo
Na relação entre o marca passo e o eletrodo
Sentia o coração da hiena que me espreitava.

Ela queria roubar-me o último denário
E na escuridão o lobo também me espreitava
Colocava no meu olho sua abominável trava
E do meu bolso sugava seu salário.

Frente a frente, eu e a besta que me assanha
Não posso no meio da matilha cair
Preciso agora dessa avareza sair
Ou essa maldita carnificina me apanha.

Corro para a luz fugindo da sua mão
Talvez minha única esperança
Mas, o clarão me leva à infância
E me lembro quando eu também era ladrão.

Como um relâmpago, nessa fração de segundo
A maldita besta chega a mim com sua afiada trava
E na minha neoplásica garganta crava
Trazendo-me de volta ao maldito submundo.

O sol surgiu na minha frente natural
Apenas o gelo na minha face era diferente
E vi de repente a escuridão novamente
Quando alguém me cobriu com um jornal.

Acabei caindo no meio da realidade
Fui devorado pela besta com certeza
Virei parte de hipocondríaca avareza
E tornei-me um palhaço da sociedade.

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