segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O BANQUETE

Como um alcoólatra adrede entra num bar
Eu cá pensava no meu corpo retalhado
Se meu fígado estaria necrosado
Quando o legista o fosse examinar.

Dormia e via o fantasma da minha sorte
Acordava-me e tomava também do meu café
Quando deitava sua mortalha aquecia-me o pé
Quando sorria sua foice anunciava minha morte.

Sentia nesse instante minha inorgânica matéria
Apodrecer para o júbilo das criaturas
Subterrâneas das sagradas escrituras
 Que me transformavam em pesadelos a idéia.

No conciliábulo dos antropófagos
Maquinavam em me jogar ao canibal
Deveria ir pelo caminho vicinal?
Para nutrir também os hematófagos?

O caldeirão me é o pesadelo eterno
E a carne que sabreca não é a tua
É melhor que nutras a minha carne crua
E glutes também meu pensamento no inferno.

Queima-me amargamente o rosto
A quentura abrasadora neste inferno
Ainda que esteja do lado externo
Sinto a agonia do atalaia no seu posto.

Nadei no líquido que o inferno bostejava
No momento em que à minha frente uma luz surgia
Era a luz da mãe vagina que me paria?
Não! Era a luz do cu que me cagava.

Neste inferno não me falta sofrimento
Nem amigos que caminhem ao meu lado
A bactéria, o vírus e o rato leptospirado
São os que bebem do meu corpo o escorrimento.

Não entendia como me parecia tão belo
Os caminhos traçados no corredor
Do inferno ao purgatório nada me restou
Apenas o micróbio que assumiu o meu alelo.

Era belo, porque me era a única companhia
Nas noites de angustia e solidão
A barata me servia de alimentação
No degredo perpétuo aliviava-me a agonia.

O verme sem piedade roia meu intestino
O morfético sugava como nunca meu pescoço
O carniceiro escarnava o meu já descalcificado osso
Este banquete era afinal o meu destino.

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