segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

AO DEUS OBSERVADOR

 Eu, filho da tua hipocondríaca avareza
Ínfimo da matéria carbonizada
Ainda que no útero nem gerada
Já caminhava na aberração da tua pobreza.

Eu, perfeita obra tua
Criado para alimentar tua alienação
Além de me tirares da mesa o pão
Obrigas-me a comer essa teológica carniça crua.

Eu, perfeição da tua obra
Suporto o jugo reservado para mim
Tal qual um bibelô exposto num jardim
Fui transformado ainda jovem nesta sobra

Eu, desculpa para tua hipocrisia
Monstro criador do teu pecado
Como um cordeiro ainda sou sacrificado
Alimentando cada vez mais tua teologia.

Eu, carniceiro por natureza
Culpado por toda maldade na Terra
Por minha causa o cordeiro ainda berra
Por mim teu nome é incerteza.

Eu, que fico deitado observando na rede
Do que é capaz o homem
Só não entendo porque ainda choro a fome
Tampouco, o porquê de tanta sede.

Eu, hospedeiro cósmico universal
Da tua bizarra esquizofrenia
Rejeitado por ti na plutocracia
Entretanto, inserido por ti na desgraça mundial.

Eu, expiatório da tua inoperância
Culpo-me por tanta ignorância
De não ter na epigênese da minha infância
Observado que eras um deus de mera observância.

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