segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

NOITES DE AGONIA
O INFERNO
Sento-me na pedra contaminada, sorrindo
Esperando o dia que vai chegar a imensa onda
O grito de São Pedro estronda
Eis que vejo a porta do inferno se abrindo.

Meu olhar espantado vacila em qualquer direção
Observando os que na onda agora se afogam
Santos e profanos em desespero se afobam
Tentando fugir desse mar de punição.

Ela chegou sem misericórdia de ninguém
Queimando tudo que encontra à sua frente
Com fúria louca impetuosamente
Engolia rico, pobre, pecador e até santo também.

Pitágoras calculava metricamente
Como faria para Dali escapar
Tentava em vão com seu triângulo o inferno mensurar
Enquanto Mussolinni nadava e ria alegremente.

Madre Teresa também estava no meio do choro
Não entendia como isso pode acontecer
Tinha livrado muita gente de sofrer
E não conseguiu livrar seu próprio couro.

O padre que me deu a extrema-unção
Em qualquer coisa se agarrava
Inclusive se agarrando numa flecha que passava
Encravada na carcaça de São Sebastião.

O navio com sua bandeira flamejante
Abalroava-se entre tantas naus ardentes
Eram os corsários com suas ordens inclementes
Que gritavam tal como o louco Dante,

Hipócrates com seu primeiro esquartejado
Agora olhava sua faca, completamente desconexo
Não via idade, raça clero ou sexo
Só vias suas cobaias, consigo queimando lado a lado.

Hoje as cruzadas são feitas no inferno
E os cavaleiros ainda pensam que podem ir além
Queimando tudo para libertar Jerusalém
Fingem não saber que já estão no fogo eterno.

A formosa Helena, que não larga o seu posto
Olha para cima e enxerga um clarão
Imaginando ser a luz da salvação
Não! Apenas uma labareda para queimar seu belo rosto.

Ao meu lado duas bocas vociferavam
Eram duas figuras que há muito não se via
Estariam lamentando a intensa agonia?
Não! Eram Hitler e Dada que como loucos se beijavam.

Moisés que nadava sem largar o caduceu
Queria por força sair dali voando
Vendo suas serpentes que já estavam se torrando
Suas asas não abriram, e de vez enlouqueceu.

E a lava contumaz em esguicho escaldante
Cada vez mais de mim se aproximava
Comecei a sentir que minha alma esquentava
E não tinha também como sair da fogueira sabrecante.

Lembrei-me, que em meu bolso havia o fim da minha sina
A milagrosa mistura de sicuta e morfina
Como um troféu levanto minha mão com adrenalina
Puta que pariu , esqueci da maldita ave de rapina.

E as aflições a todos continuavam
Que ardiam na lava bestificados
Imploravam pelo fim da expiação de seus pecados
Quanto mais imploravam, mais seus pecados aumentavam.

Padre Cícero Romão, que dizia não ter pecado
Quando deu a Lampião o seu perdão
Pedia ao diabo agora compaixão
Mas, esquecia que a batina o havia condenado.

Por isso estou neste fogo conformado
Com essa brasa queimando minha língua
Pelo menos no inferno não vivo à míngua
E nem sou o socialmente escarnado.

E não adianta agora Lucrécia se lamuriar
Cada um trás do berço seu destino
Deveria saber que por comer tanto menina quanto menino
Um dia isso tudo teria que pagar.

Ainda que no caldeirão todos gritem
 Não querem olhar para trás
Só dizem que na vida pecado nunca mais
Mentirosos, é bom que no inferno seus corpos fritem.

Salim, Davi, Levi sorriam ao meu lado
Só queriam saber como ficariam a raça pura
É que no inferno não existe boa mistura
E de concentração já estavam acostumados.

O sonho finalmente se havia realizado então
Desse homem que contra o fogo muito tem lutado
Ainda que no inferno já esteja sabrecado
O bombeiro ainda está com sua mangueira em prontidão.

Hoje tanto certos quanto errados
Já compreendem com clareza
Que não importa, santo profano ou natureza
Todos hão de pagar bem caro no inferno seus pecados.

Enfim a luz clareou a mente deste inútil
Lá vou como louco ao purgatório
Talvez como bode expiatório
Ou quem sabe à morte ser mais útil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por ter comentado, seu comentário é muito importante