quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

DAS TRAÇAS ÀS BARATAS

 
Quisera não ver, a desgraçada fome
Sentado com o homem
Na mesa a pensar.

Quisera não ver, a maldita da sede
Deitada na rede
Com a mulher a sonhar.

Quisera não ver, o azedo desgosto
Do feto exposto
Para ciência avançar.

Quisera não ver, o abandonado roubando
Cola cheirando
Para poder se criar.

Quisera não ver, a amargo na língua
No dia da míngua
E o excluído a esmolar.

Quisera não ver, o funesto coveiro
Ganhar seu dinheiro
De uma mãe a chorar.

Quisera não ver, o coração do leproso
Ficar mais asqueroso
Por não poder mais beijar.

Quisera não ver, o tal pecador
Ser tão sofredor
Por não saber mais rezar.

Quisera não ver, o homem caindo
O sangue saindo
Com a morte a bailar.

Quisera não ver, a sina da Maria
Apanhar todo dia
E à noite ter que gozar.

Quisera não ver, o assalariado
Mais escravizado
E a miséria aumentar.

Quisera não ver, o ódio no rosto
Do atalaia no posto
E o inimigo ter que matar.

Quisera não ver, na guerra a batalha
Carregando a metralha
E a baixa ter que altear.

Quisera não ver, a sorte lançada
A paz alcançada
E o soldado ter que se armar.

Quisera não ver, as igrejas inchando
Os hipócritas rezando
E deus não poder perdoar.

Quisera não ver, o milênio romper
A terra aquecer
E o gelo avançar.

Quisera não ver, o dia sumindo
O armagedon surgindo
Para o mundo assombrar.

Quisera não ver, a tecla apertada
A ogiva acionada
Para a criança encantar.

Quisera não ver, a traça roer
A barata sobreviver
Quando cogumelo o mundo pasmar.

Quisera não ver, o furor do eclipse
No apocalipse
Quando a trombeta soar.

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